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BATE-PAPO PEF 2025 Por André Teixeira

BATE-PAPO COM CARLOS GANDARA

PRESIDENTE DA CONFOTO

Num mundo inundado por imagens, em que qualquer pessoa com um celular na mão pode fotografar, qual é o papel dos fotoclubes?

  Os fotoclubes funcionam como pontos de convergência. A fotografia é uma arte encantadora, capaz de transformar vidas. Além disso, é generosa: está facilmente acessível a todos que desejam se expressar por meio dela. Nem toda pessoa que faz uma foto é um fotógrafo, mas para aqueles que desejam transformar a fotografia em forma de arte, ela é uma excelente via. Embora muitos digam que a fotografia é uma atividade solitária, o ser humano não é. Precisamos estar em contato e trocar experiências. Os fotoclubes surgem dessa necessidade de convivência. Ao ingressar em um fotoclube, você encontra um ambiente fértil para debates, mentorias e trocas de ideias. Há iniciantes, fotógrafos experientes, especialistas em áreas específicas, criativos multifacetados — mas, acima de tudo, o fotoclube é berço de amizades fortes e duradouras.

 

A história do fotoclubismo no Brasil é longa e produtiva. Qual foi a contribuição desse movimento para a fotografia brasileira? Que nomes você destacaria?

   Os fotoclubes são espaços de liberdade criativa, onde não há restrições técnicas ou temáticas — apenas limites éticos. Muitos fotógrafos profissionais começaram suas trajetórias em fotoclubes, descobrindo ali sua vocação. O caminho inverso também é comum: profissionais que encontram nos fotoclubes o espaço ideal para sua expressão artística, escapando das limitações comerciais do dia a dia.

  Das discussões acaloradas, muitas vezes, surgem ideias que se transformam em verdadeiros movimentos artísticos. Foi assim com a fotografia pictorialista no Rio de Janeiro, nos anos 1930, e com a fotografia modernista em São Paulo, nos anos 1950, com nomes como Thomaz Farkas, German Lorca, Sérgio Jorge, José Yalenti, Paulo Pires e Eduardo Salvatore. Também é importante lembrar de grandes nomes mundiais ligados a fotoclubes, como Ansel Adams e Edward Weston nos Estados Unidos, e Otto Steinert na Alemanha. Hoje, seguimos vendo grandes talentos surgirem de dentro dos fotoclubes, conquistando espaço no Brasil e no exterior.

É possível estimar quantos fotoclubes existem no Brasil? 

 

    Atualmente, existem 28 fotoclubes filiados à Confoto espalhados por todas as regiões do Brasil. Além deles, há diversos coletivos fotográficos com potencial para integrar essa rede. Uma das missões da Confederação é justamente atrair e acolher esses grupos, fortalecendo o movimento fotoclubista no país.

Qual é o perfil mais frequente dos integrantes? São amadores ou profissionais, de que faixa etária, sexo, formação cultural, enfim, quem é o fotoclubista clássico?

   O perfil dos fotoclubistas varia. Na América Latina e América do Norte, é comum que o ingresso ocorra quando a pessoa já atingiu certa estabilidade pessoal e profissional -– geralmente a partir dos 40 anos. São homens e mulheres em proporções semelhantes, muitos com carreira acadêmica ou profissional consolidada, que buscam a fotografia como forma séria de expressão.

  Na Europa, observa-se um movimento mais jovem: muitos ingressam ainda no início da vida profissional ou acadêmica, buscando no fotoclube um espaço para equilibrar arte, lazer e rotina. O desafio brasileiro é atrair e engajar essa juventude, renovando constantemente o fotoclubismo.

Que eventos de fotoclubes você destacaria?

    O grande evento dos fotoclubes brasileiros é a Bienal Brasileira de Arte Fotográfica, promovida pela Confoto com apoio dos clubes locais. A primeira edição em preto e branco aconteceu em 1960, em Campinas (SP); a primeira edição em cores, em 1979, em Volta Redonda (RJ). Hoje, as bienais se alternam — anos pares com fotografia PB, anos ímpares com fotografia colorida.

    Em 2025, a Bienal será realizada em Recife (PE), com organização conjunta da Confoto e da Fototech. Além das Bienais, destacam-se os Salões de Concurso promovidos pelos clubes e o novo Circuito Internacional de Fotografia. Como entidade vinculada à FIAP e à PSA, a Confoto incentiva a participação dos clubes em atividades internacionais.

  A rotina dos fotoclubes inclui palestras, cursos, workshops, discussões sobre grandes fotógrafos, análise de tendências, avaliação de equipamentos e viagens fotográficas.

Os fotoclubes sempre foram um espaço de aprendizado e troca de experiências, um papel que hoje pode ser desempenhado pela internet. O número de frequentadores desses clubes vem diminuindo ou se mantém?

   A internet não afastou os fotoclubistas. Pelo contrário, foi essencial para sua coesão, especialmente durante a pandemia de Covid-19. As reuniões online mantiveram os clubes vivos. Não deixamos de realizar Bienais e continuamos conectados. Hoje, a internet é uma poderosa ferramenta de troca, aprendizado e, mais recentemente, de experimentação com inteligência artificial. 

Muitos adeptos de processos fotográficos antigos ou alternativos, como negativo, cianotipia e pin hole, se encontram nesses espaços. Pelo que você acompanha, o interesse por esses tipos de fotografia tem crescido? Quais são os mais comuns, e onde buscar conhecimento sobre eles?

   O interesse por processos alternativos e históricos, como negativos, cianotipia e pinhole, cresceu muito. Jovens fotógrafos têm se encantado por esses métodos quase mágicos. A fotografia com película é vista não apenas como algo 'vintage', mas como forma autêntica de expressão. Em festivais e feiras, vemos câmeras analógicas e filmes em alta — e muitos talentos explorando esse universo.

​     O pinhole e a cianotipia, por serem mais complexos, são menos comuns, mas persistem graças à dedicação de fotoclubistas. Nos clubes, essas técnicas encontram base sólida para permanecer como correntes artísticas, às vezes mais do que nas escolas de arte.

Você participa com frequência do Paraty em Foco e outros festivais. Qual a importância desses eventos para a fotografia brasileira e para o desenvolvimento artístico e profissional dos nossos fotógrafos?

     Festivais como o Paraty em Foco são fundamentais para conectar os fotoclubes ao universo mais amplo da fotografia. Paraty se transforma, durante o evento, na capital nacional da imagem. Ali, fotógrafos de todas as origens têm acesso a mestres como Sebastião Salgado, Walter Firmo, Evandro Teixeira. A convivência, os encontros e as exposições enriquecem.

      Participar de eventos como o Paraty em Foco é uma experiência transformadora. Fotoclubistas retornam inspirados, renovados, com novos olhares. É um momento de imersão artística que marca a trajetória de qualquer fotógrafo.

CONFOTO: https://confoto.art.br/

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